Boletim ASBAI Edição Nº 53 | EDITORIAL | Novas diretrizes terapêuticas do diagnóstico e tratamento do angioedema hereditário serão lançadas em 2021
Dezesseis de maio é um dia dedicado à conscientização acerca do angioedema hereditário — e 2021 será um marco, pois a data comemorativa completa 10 anos.
O angioedema hereditário é uma doença genética rara autossômica dominante, cujos indivíduos afetados são heterozigotos. A frequência média de acometimento é de 1:50.000. Ele se caracteriza pelo aparecimento de edemas na região subcutânea e submucosa do trato digestório e respiratório superior. Os sintomas geralmente iniciam na infância e exacerbam na idade reprodutiva, principalmente em mulheres.
Embora tenha sido descrito no final do século 19, com a denominação de edema angioneurótico, ainda é uma condição subdiagnosticada no século 21. Ocorre um atraso no diagnóstico dessa condição e muitos pacientes são tratados como portadores de processos alérgicos, resultando em perda significativa da qualidade de vida.
Os pacientes apresentam diferentes gravidades nas manifestações clínicas entre as famílias afetadas, porém, até dentro das mesmas famílias, onde os indivíduos têm a mesma mutação, existe uma heterogeneidade de quadros clínicos.
Portanto fatores epigenéticos devem contribuir para a expressão clínica da doença. A maior parte dos sintomas se constitui em edemas submucosos afetando os membros e a face, associados ou não a sintomas digestivos, sendo a complicação mais temida o edema de vias aéreas superiores, que pode resultar em óbito por asfixia se não for adequadamente tratado. Esses sintomas aparecem após fatores desencadeantes, principalmente trauma, estresse, uso de alguns medicamentos, infecções ou mesmo sem fator desencadeante determinado.
Tipos e tratamentos
Existem dois tipos de angioedema hereditário: com deficiência da proteína plasmática C1-inibidor e sem deficiência dessa proteína. O primeiro grupo corresponde aos pacientes descritos originalmente, com mutação no gene SERPING1, já tendo sido descritas mais de 600 mutações nesse gene. O segundo tipo, descrito há cerca de 20 anos, atualmente já se encontra associado a mutações em seis genes distintos, mas ainda havendo diversos pacientes sem mutação genética conhecida. O modo de transmissão é similar nos dois tipos de angioedema hereditário, porém, alguns pacientes podem não ter história familiar e serem os primeiros casos da mutação, o que dificulta o diagnóstico.
O tratamento desses pacientes avançou muito nos últimos anos, tanto nas crises quanto na prevenção dos sintomas. Para as crises, atualmente dispomos do icatibanto (inibidor do receptor B2 da bradicinina) e o concentrado do C1 inibidor derivado do plasma. Na profilaxia em longo prazo, deve ser utilizado o concentrado do C1 inibidor derivado do plasma ou o anticorpo monoclonal anticalicreína; e como segunda opção, os andrógenos atenuados, que, no entanto, podem ser associados a diversas reações adversas, principalmente em mulheres, e não podem ser utilizados em crianças ou gestantes.
Cenário brasileiro
Apesar do avanço na terapia e da aprovação desses tratamentos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os pacientes do Sistema Único de Saúde não têm acesso a tais opções terapêuticas. O último Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), que norteia o tratamento desses pacientes no SUS, apenas indicou o uso do danazol para profilaxia de longo prazo e o uso de plasma fresco congelado para as crises. Para conseguir a terapêutica apropriada na rede pública, a maioria dos pacientes precisa entrar com ações na justiça.
Criado em 2014 e formado por profissionais de saúde que lidam com a doença, o Grupo de Estudos Brasileiro em Angioedema Hereditário (GEBRAEH) tem trabalhado para maior divulgação de informações. Atualmente, somos 52 membros e trabalhamos em parceria com a Associação Brasileira de Portadores de Angioedema Hereditário (Abranghe).
No próximo 16 de maio, teremos mais um encontro virtual coordenado pelo GEBRAEH em parceria com a Abranghe para orientação sobre os diversos aspectos dos cuidados desses pacientes. Outra ação importante do GEBRAEH é a solicitação de um novo PCDT que inclua novas opções terapêuticas aos pacientes do SUS. E estamos elaborando, ainda para este ano, as novas diretrizes terapêuticas do diagnóstico e tratamento do angioedema hereditário.
Régis de Albuquerque Campos
Presidente do Grupo de Estudos Brasileiro em Angioedema Hereditário (GEBRAEH)
Coordenador do Departamento Científico de Imunobiológicos da ASBAI
Membro do Departamento Científico de Urticária e Angioedema da ASBAI